Comunidade Quilombola do Mandira – História contada de geração em geração

Comunidade Quilombola do Mandira – História contada de geração em geração

A Revista Cananéia em Foco fez uma visita à Comunidade do Mandira e numa prosa com o Francisco Mandira, Seu Chico como é conhecido, pode nos contar um pouco das histórias e cultura desse lugar maravilhoso.

A História
Com mais de três séculos de história, a comunidade Quilombola do Mandira, está localizada na Estrada Itapitangui/Ariri – Km 11, no Município de Cananéia, onde residem 25 famílias, unidas a favor da preservação da natureza e passando a diante a história de seus ancestrais.
Seu Chico conta que, em meados dos séculos XVII/XVII, nas terras do Mandira, se localizava uma próspera fazenda de arroz. O dono da fazenda e senhor de escravos, Antônio Florêncio de Andrade, teve 4 filhos do seu casamento e um, fruto do seu relacionamento com uma de suas escravas – Tereza, chamado Franscico Vicente.
Após a queda do ciclo do arroz, a família mudou-se para Minas Gerais aproveitando a ascenção do ouro e Francisco Vicente, recebeu como doação cerca de 1.200 alqueires (2.880 ha) de sua meia irmã Celestina Benícia de Andrade. Francisco Vicente casou, teve filhos, dentre eles João Vicente Mandira e Antônio Vicente Mandira, ambos casaram e tiveram filhos, dando seguimento à comunidade. Hoje são 24 famílias e a sétima geração.
É claro que nada foi fácil e depois de muitas batalhas judiciais, em 1912, João Vicente conseguiu registrar as terras em seu nome e ficou conhecido como o advogado dos pobres.
Nessa época a comunidade sobrevivia da roça, da pesca, da caça, da exploração do palmito jussara, do comércio de madeira como a Caxeta, muito usado para lápis e salto de tamanco e do Guanambi, usado para a produção de embarcações.

Atrações Turísticas
Com uma área de mata preservada que cobre a maior parte do território da comunidade do Mandira é possível passar por vários riachos ao longo do caminho e com sorte avistar diversos animais da região como: macacos, tatus, bugio, tamanduás, maritacas, papagaios, corujas entre outros.
Atrações turísticas não faltam como:
Ruínas – Casa de pedra, como é conhecida a antiga ruína do Mandira, foi construída como a maioria das edificações de Cananéia: pedra, areia, material de sambaqui e óleo de baleia. Sua história tem duas versões: uma conta que antigamente era um moinho de arroz, usado na época da fazenda e outra que a antiga construção era a casa do feitor ou capataz da fazenda, que supervisionava e capturava negros escravos fugidos, porém as duas versões se completam. Foi cenário de uma batalha sangrenta entre paulistas e paranaenses, na época da revolução Farroupilha e com o passar dos anos foram encontrados restos de balas e cartuchos intactos.
Sambaqui Mandira – Pertinho da Ruína, uns 10 minutos de caminhada, está o sambaqui do Mandira. Conhecido como depósitos construídos pelo homem, há milhares de anos, são constituídos por cascas de moluscos, ossos, equipamentos primitivos de pesca e até objetos de arte. Mas há uma outra versão, contata pelo povo, que em 1615 houve uma grande enchente do Rio Mandira e os mariscos e ostras que não aguentam água doce foram morrendo. Com o baixar das águas, se formou um rodamoinho e com a deposição das conchas se construiu o que é hoje o sambaqui. Outra lenda é que após a enchente, a água foi baixando e encontraram duas onças em cima de um pedaço de madeira, que até hoje é conhecido como o Pau da Onça.
Cachoeira do Mandira – Uma das cachoeiras mais gostosas de Cananéia, é formada por duas piscinas naturais quase sem pedras no fundo e por várias corredeiras. A caída da água ao fundo da segunda piscina natural é um show a parte.
Resex – Reserva Estrativista do Mandira – Com a união da comunidade e a ajuda de pessoas ligadas ao meio ambiente, o Mandira passou a criar em viveiros especiais ostras e mariscos, tornando-se a principal atividade da comunidade. Com uma cultura sustentável e de geração de renda, na Resex – Reserva Extrativista do Mandira (criada em 1994 e regulamentada em 2002) é possível se ter a extração ano inteiro. Seu principal produto, as ostras, são transportadas para a Cooperostra – Cooperativa dos Produtores de Ostra de Cananéia e comercializadas em Cananéia e litoral paulista. Hoje a comunidade recebe grupos de estudantes e turistas e conta com cinco embarcações de alumínio e um de fibra para levar grupos de 35 pessoas para conhecerem os viveiros e aprenderem um pouco sobre essa atividade.
Culinária – Muito procurada pelos visitantes, a culinária da comunidade é a base de ostras, mariscos, mandioca, das quais podem degustar nos restaurantes da comunidade, ostra em natura e gratinada, torta e farofa de ostra, ostra com legumes, lambe-lambe (marisco com arroz e outros temperos) dentre outras delícias da região.
Artesanato – O grupo formado por mulheres da comunidade, produz bijuterias com sementes nativas, enfeites com conchas, cestarias, bolsas, almofadas, camisetas, bonecas de pano dentre outros. Os produtos são comercializados na própria comunidade e em feiras, além de aceitarem encomendas de encontros, congressos, etc.

Reconhecimento das terras
Em 8 de Outubro desse ano, o INCRA (Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária) reconheceu cerca de 1.200 hectares de terras da Comunidade Quilombola do Mandira, sendo o sexto quilombo a passar por essa etapa no Estado de São Paulo.
Essa área é equivalente à metade do território da comunidade, sendo a outra metade em poder do estado. Esse acordo foi firmado com a população por não haver condições de fiscalização de todo o território, impedindo o desmatamento e invasões.
É o merecido reconhecimento da União às pessoas que se dedicam e passam de geração em geração a cultura quilombola, que agora terão mais tranquilidade e segurança para cuidarem de suas terras.
A Comunidade do Mandira está altamente ligada à conservação do meio ambiente, à valorização do mangue e das espécies de plantas e animais da região.
Com uma simpatia singular, acolhem a todos e você passa a se sentir em casa. É a natureza aliada à história, regada a muita comida e conversa boa.
Se você já conhece vá novamente, se não foi, não sabe o que está perdendo…

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Kira Gordon

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